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O que você quer para Goiânia?

  • Foto do escritor: Gazeta Goyazes
    Gazeta Goyazes
  • 5 de ago. de 2024
  • 8 min de leitura

Na eleição mais disputada desde a redemocratização, Goiânia enfrenta o dilema do continuísmo, do giro à esquerda ou de abraçar o governismo.


Por Ana Júlia Mendes, Geovana Gonçalves, Gustavo Martins e Victor Hugo Gomes



Segurança pública, asfalto, mobilidade urbana, educação, saúde… Neste ano, mais de um milhão de eleitores de Goiânia vão às urnas escolher seus representantes para o próximo quadriênio, levando em conta questões sociais, econômicas e ideológicas que condicionam a visão do que deve ser prioridade da nova gestão.


Caike Matheus, de 18 anos, morador do Jardim Mont Serrat, ressalta sua preocupação com a segurança pública. “Está tendo muitos casos de volta de assalto, agressão sexual, agressão física contra mulheres. Isso é uma pauta que tem que ser vista com olhar de atenção para poder prevenir. Está tendo muito caso de feminicídio também.”


O anseio do jovem, que apesar de viver em Aparecida de Goiânia frequenta diariamente a capital, contrasta com a visão do morador do Setor Bueno, bairro de alto padrão, que destaca o trânsito e a atração de indústrias como urgente.


“O trânsito de Goiânia está caótico. Não tem viaduto nessa cidade. Você não vê nenhuma ação de redução de impostos, de incentivo à indústria em Goiânia. Não tem nenhum incentivo para o empresário vir, só tem cobrança de imposto”, diz o mineiro que vive há 60 anos na capital.


Já Luís Eduardo Carvalho, morador de 24 anos do Jardim Ana Lúcia, frisa o asfaltamento como questão central. “Eu acredito que seja mais a questão do asfalto. Em muitos lugares ainda o asfalto não está 100% adequado.”


A conservação ambiental também ganhou aderência devido à crise do lixo na cidade. “Acho que é a questão do lixo e a questão ambiental. Trabalhar o lixo, a reciclagem”, diz Ilda Pires, de 67 anos, moradora do Jardim América.


Aos 65 anos, a moradora do Parque Amazonas, Ellen Simon, faz uma crítica à zeladoria municipal. “Nós temos uma cidade mal cuidada, com todo o desleixo do prefeito. Tem que cuidar dessa cidade. Segurança, saúde, mas principalmente cuidar da cidade.”


Apesar das diferenças geracionais, de perfil socioeconômico e de demandas, um sentimento comum é o contraste entre a vontade de mudança na gestão goiana e a falta de convicção que isso ocorrerá.


“A gente tem poucas opções de pessoas que estão dispostas a mudar os paradigmas da cidade. Ficar só na mesma coisa, na mesmice… Está parecendo uma capitania hereditária o cargo de vereador. Então, isso tem que mudar”, ressalta o morador do Setor Bueno.


"Eleição sempre tem que ter confiança. Por mais que o candidato possa ter uma boa intenção, o mínimo que ele pode fazer é o mínimo. Não tem como passar disso", Caike Matheus reflete sobre o receio de se frustrar com os candidatos.

Luiz Eduardo também mostra sua incerteza quanto às mudanças: “A gente sabe que na política há muita questão de promessa, mas pouca efetividade."


Apesar de não ter escolhido em quem votar, Ilda Pires não vai apoiar a atual gestão “Estou analisando. Acho que sempre tem que ter mudança.” 


Para além dos anseios dos votantes, é preciso entender o complexo jogo de poder, como se desenvolve uma campanha municipal, o cenário histórico e atual para entender a dimensão da disputa pelo Paço Municipal em 2024 e os impactos na vida das e dos goianos.


A reportagem tem o objetivo de analisar o cenário das eleições municipais através da opinião de especialistas, além de detalhar as influências políticas entre os candidatos e quais os caminhos daqui até o primeiro turno.







Realidade da disputa municipal


A campanha à prefeitura tem uma dinâmica particular nas eleições gerais. Para entender melhor essas peculiaridades, Thiago Gustolli, especialista em marketing digital, que atua em campanhas políticas há quase uma década e atualmente integra a equipe de comunicação da Deputada Federal e pré-candidata à Prefeita de Goiânia, Delegada Adriana Accorsi, destrinchou alguns pontos e perspectivas quanto às eleições em Goiânia neste ano. 


Diferente das estaduais e nacionais, as eleições municipais são mais palpáveis, já que o eleitor tem uma maior noção em seu cotidiano de quais são as pautas mais urgentes e necessárias a serem trabalhadas a curto prazo. 


“É a rua que não está asfaltada, o trânsito que não está fluindo, o posto de saúde que não tem médico… É uma eleição em que os problemas e as propostas precisam ser mais práticas”, comenta. 


Sobre as especificidades da campanha eleitoral na capital goiana, Thiago diz acreditar que pautas conservadoras são fortes não só na capital, mas também em todo o Estado. “A campanha de Goiânia e de Goiás, no geral, é muito marcada pelo conservadorismo. Então, pautas de costumes acabam sempre permeando o debate em qualquer tipo de legislatura, mesmo quando esse cargo não pode propor nada e não pode fazer nada a respeito. Então, temas como aborto e casamento homoafetivo sempre aparecem na campanha como assuntos em que o eleitor pesquisa”, defende. 


Porém, o especialista enfatiza que os motes das campanhas na capital, ou seja, os assuntos e pautas que são mais fortes e possivelmente decisivos para que o eleitor defina seu voto, são questões da zeladoria urbana, como segurança pública e mobilidade, além da crise do lixo enfrentada pela capital.


“Acho que Goiânia passa por uma crise do lixo bem pesada que afetou o goianiense durante os últimos anos. Além disso, a crise na educação infantil, que é uma atribuição da Prefeitura de Goiânia. Acredito que são essas questões, junto com mobilidade urbana e segurança pública, que vão realmente ditar a direção das eleições municipais esse ano. Acredito que vamos passar por um período de polarização quando essas pautas de costumes serão trazidas à tona, mas o eleitor, no final das contas, vai decidir por como a atuação no dia a dia da prefeitura vai impactar na vida dele no cotidiano”, responde. 


O contraste entre bairros e realidades também pode influenciar a decisão do voto do eleitor e a forma como uma campanha se porta diante dessas convergências. Thiago explica que há uma adaptação na linguagem, além da seleção de pautas a serem trabalhadas. 


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As diferenças entre bairros influencia uma campanha?

Transporte, segurança e saúde pública, opções de lazer, trânsito, infraestrutura e preservação das áreas verdes são aspectos essenciais para a manutenção da vida na cidade de Goiânia. A distribuição dessas questões em cada bairro é um ponto a ser considerado.


Cileide Alves, analista política pela CBN Goiânia e jornalista colunista do jornal O Popular, com a mesma visão de Thiago, retrata como houve a evolução das eleições em Goiânia e como, de certa forma, a religiosidade está influenciando a população a escolher os seus candidatos.


Além disso, a entrevistada ressalta que, antigamente, Goiânia era uma cidade considerada para “mudança de vida”, porém, a partir dos anos 1990, ela passou a ter um fluxo migratório de São Paulo e Rio de Janeiro, mudando o eleitorado.







Uma disputa com influências


Há de se observar uma grande influência nas candidaturas municipais relacionadas às forças políticas atuantes no país como, por exemplo, Sandro Mabel (UNIÃO), que tem o apoio do partido de Jair Bolsonaro (PL), contando também com o respaldo de Ronaldo Caiado e do ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha. Outro candidato que tem o apoio do ex-presidente Bolsonaro é Fred Rodrigues (PL). 


Adriana Accorsi, uma das candidatas mais indicadas em pesquisas de intenção de voto dentro da cidade, vem recebendo o apoio do partido político do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), diferente do candidato Rogério Cruz (Solidariedade), atual prefeito de Goiânia, que aparece em baixa nas pesquisas.


Outros candidatos menos falados, porém, estão na candidatura: Leonardo Rizzo (NOVO), Reinaldo Pantaleão (UP), e Matheus Ribeiro (PSDB).


Vanderlan Cardoso (PSD), diferente dos outros candidatos, decidiu por não contar com o apoio por parte do governador e de partidos políticos, apresentando assim uma queda nas intenções de voto.


A analista política Cileide Alves demonstra seu ponto de vista em respeito às perspectivas no cargo da prefeitura deste ano e como os seus aspirantes vêm lidando com as candidaturas, destacando as principais forças políticas:





Há quatro anos, a disputa já esboçava o quadro de divisão entre o continuísmo — representado pelo emedebista Maguito Vilela —, a esquerda, com Adriana Accorsi, e o caiadismo, então representado por Vanderlan Cardoso. Os resultados do pleito anterior, conforme o gráfico a baixo, traçam um paralelo para a corrida deste ano.


Dados: TSE/Resultado das Eleições 2020



Neste ano, o primeiro turno das eleições estão marcadas para 6 de outubro; já o 2º turno acontece no dia 27 de outubro, caso necessário. Além da prefeitura, estarão em disputa os cargos de vereadores.


  • O vereador busca elaborar projetos de lei, que depois vão ser votados pela Câmara Municipal, bem como fiscalizar projetos, programas e ações dentro da prefeitura, como uma melhor forma de atender os anseios do povo. 


Já o prefeito, que assume o poder executivo, acaba recebendo maior atenção da mídia e até mesmo da população:


  • O Prefeito(a) controla os gastos do dinheiro público; planeja e concretiza obras públicas; administra o município por meio da arrecadação de impostos e taxas que servem para custear projetos e programas em diversas áreas, como limpeza e iluminação pública, serviços de saúde municipal, educação infantil e ensino fundamental, entre outras.


É de suma importância participar das eleições, pois o eleitor-cidadão é quem tem o poder, o dever e o direito de votar. Além de ser um ato obrigatório, é uma forma de decidir o melhor para a cidade pelos próximos quatro anos. 


Ao se candidatar, é necessário apresentar um plano de governo, considerado um roteiro estratégico com detalhes das diretrizes, políticas, metas e estratégias que um candidato pretende implementar durante seu mandato.


Aliás, ele serve como base para a elaboração do Plano Plurianual (PPA), garantindo que as promessas de campanha, que tanto a população fica de olho para escolher o seu candidato, sejam cumpridas de forma organizada e transparente.


A Câmara Municipal é o órgão legislativo local responsável por criar leis, fiscalizar o Executivo e representar a população, onde atuam os vereadores. Foto: Gustavo Martins Alves.





Caminhos até 6 de Outubro


A pouco mais de dois meses até a chegada do primeiro turno das eleições municipais, o eleitorado deve estar atento a diversas questões que antecedem o momento de depositar o voto. 


O principal é checar o perfil dos candidatos: histórico de cargos e vida política, pesquisar suas propostas e entender cada uma delas. Além do cargo de prefeito, as opções de vereadores também devem ser analisadas e não deixadas para a última hora.


Os debates entre candidatos devem acontecer próximos ao primeiro turno e são extremamente importantes para que os eleitores possam avaliar a performance de cada um, bem como a diferença entre as suas propostas. 


As propagandas e campanhas eleitorais começam a partir de 16 de agosto. Comícios, carreatas e diversos outros eventos devem marcar os momentos de proximidade entre o/a pretendente a prefeito(a) e a população. 


Para o legislativo, funciona um sistema proporcional de votação, diferente do sistema majoritário, que funciona no caso do cargo para prefeito, quando o mais votado assume o cargo. O sistema proporcional existe com o objetivo de fortalecer os partidos políticos, um dos pilares da democracia representativa, adotando dois cálculos, chamados de serem quociente eleitoral e quociente partidário.


O quociente eleitoral é calculado dividindo-se a quantidade de votos válidos para determinado cargo pelo número de vagas para aquele cargo. Isso se deve ao sistema proporcional de votação, que é utilizado no país nas eleições para câmaras municipais, assembleias legislativas e Câmara dos Deputados.

Para termos um entendimento melhor, o  quociente partidário define o número de vagas a que cada partido tem direito. Com ele as federações  de partidos são consideradas como um único partido político. Esse cálculo é feito dividindo-se a quantidade de votos válidos para determinado partido ou federação pelo quociente eleitoral. Em eleições gerais, a conta é feita separadamente para cada cargo (deputado estadual ou deputado federal). Já as coligações para eleições proporcionais foram extintas em 2017.


No site do TSE, é possível entender como vai funcionar a eleição para vereadores este ano, considerando esses cálculos.



Depois dessas informações, opiniões de especialistas e populares, o que você, leitor,  leva em consideração para escolher seu candidato na disputa municipal? 

  • Melhorias no transporte público;

  • Melhorias na saúde pública;

  • Melhorias de segurança;

  • Melhorias no trânsito e na conservação ambiental;













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